quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Reflexão sobre crise, inovação, originalidade e imitação.

Muitos dizem, - e eu venho dizendo o mesmo aqui no blog - que é na crise que temos oportunidades. Outros dizem que na crise devemos ser cautelosos, cortar gastos, investir menos. Estes segundos são o que podemos chamar de conservadores. Uma matéria da Exame, leia aqui, mostra o contrário. Eu venho dizendo o contrário e mais: que devemos inovar, e a única coisa a cortar na crise é o "s". E já escrevi muito sobre o assunto. Uma pena não ter criado uma categoria chamada "inovação" que assim daria para colocar um link para todos que escrevi sobre inovação. Mas quem se interessar, tem o sistema de busca do blogger.

Muito já se falou e ainda falam sobre inovação, ser original e outros destes termos da modernidade contemporânea(sic) em faculdades, palestras, cursos, livros, artigos, sites, blogs, etc. Mas como buscar esta inovação, esta originalidade? Dizem que é bom viajar, estudar, ler muito, ler de tudo, aprender de tudo. Mas olhando assim, parece muito fácil, quase uma receita de bolo, um fetiche, esvaziada daqueles conteúdos valiosos que, para ser apreendidos, requereriam que a fórmula fosse antes negada e relativizada dialeticamente do que aceita sem mais nem menos. O mundo quer que inovemos e sejamos originais do nada. Isso não existe. É o mesmo que dizer que o marketing cria necessidades. Oras não se cria necessidades, elas estão por ai, as pessoas que não perceberam ainda; ou existe e ainda não se tornou conhecido.

As perguntas que devemos fazer é: basta apenas viajar, estudar, ler muito, ler de tudo, aprender de tudo? É preciso fazer algo mais com o que se aprende? Quando a fórmula passa a substituir estas duas perguntas em vez de suscitá-las, ela já não vale mais nada.

Vamos começar com "viajar, estudar, ler muito, ler de tudo, aprender de tudo". Basta apenas viajar? Ler e estudar, é só isso? Então porque é tão difícil criar o novo?

Viajar deve ter um objetivo: buscar uma idéia nova. Ler deve ter um objetivo e não apenas ler, por ler. O sujeito que nunca tenha lido um livro até o fim, mas que de tanto vasculhar índices e arquivos tenha adquirido uma visão sistêmica do que deve ler nos anos seguintes, já é um homem mais culto do que aquele que, de cara, tenha mergulhado na "Divina comédia" ou na "Crítica da razão pura" sem saber de onde saíram nem por que as está lendo. E isso vale para livros técnicos, também.

Quando o sujeito viaja ou lê, observando, analisando, criticando, comparando, compreendendo está mais próximo da inovação e originalidade que os demais. Mas, além disto, tudo é preciso imitar. Isso mesmo: imitar.

A imitação é a única maneira de assimilar profundamente. Se é impossível você aprender inglês ou espanhol só de ouvir, sem nunca tentar falar, por que seria diferente em criar o novo?

O fetichismo atual da "originalidade" e da "criatividade" inibe a prática da imitação. Quer que os aprendizes criem a partir do nada, ou da pura linguagem da mídia. O máximo que eles conseguem é produzir criativamente banalidades padronizadas.

Ninguém chega à originalidade sem ter dominado a técnica da imitação. Imitar não vai tornar você um idiota servil, primeiro porque nenhum idiota servil se eleva à altura de poder imitar os grandes, segundo porque, imitando um, depois outro e outro e outro mais, você não ficará parecido com nenhum deles, mas, compondo com o que aprendeu deles o seu arsenal pessoal de modos de dizer, criar, etc, acabará no fim das contas sendo você mesmo, apenas potencializado e enobrecido pelas armas que adquiriu.

Conheço uma proprietária de salão de beleza que tinha muita espera. E os clientes começaram a ir para outros salões. Ela resolveu viajar pra buscar uma idéia para evitar esta espera. Foi na Disneylândia que ela encontrou. Segundo ela, na Disney você passa minutos e às vezes horas para entrar em um brinquedo que leva apenas 5 segundos de diversão. Mas como eles conseguem fazer com que estas pessoas não se irritem com a demora? Enquanto esperam, ela percebeu que todos podiam ficar observando as decorações de ambiente da espera, eram muito bem atendidos com outros serviços de entretenimento e de acomodação. Então ela resolveu imitar e hoje, mesmo com espera média de 45 minutos no salão, os clientes esperam tranqüilos sem se irritarem. Bastou ela imitar uma grande empresa.

No mercado de software, a mesma coisa. Você já viu como funciona uma fábrica de software? Já foi ver uma micro ou pequena empresa de software em outro país ou cidade? O que fazem as grandes? Já as imitou? Se não imitou, pelo menos criticou ou fez comparação sua empresa?

Não sei se esta é a fórmula. Mas acredito que chega perto. Sei que já falei isso e vou falar novamente: no curso Sucesso com Software o primeiro capítulo é só sobre análise de mercado e concorrência e ajuda muito a fazer isso.

Bom, como este texto é apenas uma reflexão não preciso de uma conclusão. Até o próximo post. ;)

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